terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Corolário

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Preciso de um papel. Preciso de uma porra de um papel. É como se eu acordasse após um sonho ruim e me deparasse num lugar cheio de gente e música alta. Num lugar cheio de mulheres faceís e homens que se acham mais machos do que realmente são. Preciso inventar alguma história ou dizer tudo que vejo. Preciso declarar uma fantasia, uma mentira qualquer, deixar de herança qualquer tipo de linha ou mancha de caneta.

Preciso de um papel. Me dou conta que é tarde da noite e as pessoas dançam como não se importassem com as horas ou com suas vidas perfeitas. Elas só falam alto e beijam e soam. Todas elas, cheias de sonhos, de medos, de verdades e eu só quero um papel, mesmo que seja pra contar uma história sem sentido.

Corro como louco atrás de algum guardanapo, pareço um espécie de viciado deplorável que perdeu toda auto-estima ou decência que lhe resta. Olhos vermelhos e posso até dizer que bebi um pouco além da conta, sinto o gosto de álcool na boca e a cabeça meio longe. Não sei dizer o que houve instantes atrás e como parei aqui.

As pessoas continuam firmes com suas latas de cerveja, com suas histórias fantásticas. Por um segundo sinto nojo de todas elas e de seus sentimentos de semi-deuses. Consigo a tal caneta e um pedaço de qualquer coisa pra anotar os delírios que me vierem a mente. Verdade que já nem ligo pro papel, ja me parece uma amuleta pra apoiar os versos que amotoam ou beijam minha mente, parece medo de ver eles fugindo como se nunca mais fossem voltar. Medo, como os de criança ou quando amamos pela primeira vez. Medo de perder, medo de dar de cara com a solidão. Medo de saber que ninguém se importa. Será que todos esses medos são de criança ou de quem ama pela primeira vez?

Sei ao menos que esses medos são verdadeiros quando estamos nessas condições e acreditamos cegamente neles. Todos continuam pulando e buscando mais cervejas como se fossem retornáveis, todos riem e se divertem com piadas sádicas. Eu miro o centro do guardanapo, esvazio o peito e enfio a caneta com violência. Sobrou um papel cheio de marcas de tinta, irreconhecível, com um rasgo no meio.

Agora estamos todos iguais, maravilhosos, jovens e machucados.

Um comentário:

  1. CA RA LE O !

    Thiagonês, ainda tem vigor nesses dedos magros hein meu velho?!?!

    Posso citar muitas coisas que gostei, mas no final traduzir a raiva com um monte de tinta e um rasco sem sentido... FODA!

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