terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Matadores, Cânfora e amores

terça-feira, 22 de dezembro de 2009
São cinco da manhã e acabei de sair de um lixo de bar escondido num beco estranho dessa cidade, estou cheio de blusas e nem me aguento de tanta cerveja barata e ódio concentrado. Estou bebado e nem é de tanta cerveja, afinal, nem sei o que acontece. Sei que os sintomas são os mesmos. Sei também que acordei com esse instinto incontrolável. Um terrível matador, um assassino treinado.

Foi por isso me juntei aos detestáveis dessa cidade nessa noite friorenta, pois sempre preciso de um retiro espiritual, em cada último sopro ofegante de cada ser horrendo que extermino eu congelo e as imagens pipocam na minha cabeça. Estar junto com os vermes me faz sentir melhor, porque de algum modo me sinto como eles, escondo minha cara, com certo receio que percebam nos meus olhos o desespero dos estranhos que tive que aniquilar. E acumulo, desespero desses estranhos, quiserá eu botar em potes ou deixar em doses toda vez que levo as flores no triste funeral. É, sempre apareço nos funerais, deve ser pra se confirmar o sucesso do serviço, talvez. Verdade é que eu sempre volto. Sempre apareço.

Me atormenta toda vez que recebo notícias, seja de longe, ou de perto. Deve ser por isso que é dificil de me encontrar, estou nessa eterna fuga, das noticias, dos olhares. Só confio nas minhas mãos plenas e no ouvido treinado.

Sim, ando atormentado. As noticas não param e como vingança estão todas no meu colo, pulsando e pulsando. O passado com vestido de noiva, o choro das mulheres viúvas, as crianças descontroladas, estão aqui, todas me encarando. Nem minhas mãos puderam contar e nem pude ouvi-las se aproximar. Se assim fosse, daria tempo de ir embora outra vez.

Ir embora outra vez.
Ir embora outra vez.

Eu acendo um cigarro e monto minha cara de matador terrível. A fumaça me enche o peito e fico na espera do sono me pegar.

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