quarta-feira, 29 de junho de 2011

O intervalo ou um rascunho sobre os desencontros

quarta-feira, 29 de junho de 2011
No fim a gente é um pouco dos dois, carne sem graça no espeto ou baratão nojento aceitando o que se é.

Existe a hora, mas a gente nunca sabe. Faz dias que não sai uma linha, faz dias que ela não diz que me ama. Não vai mudar, os instantes que dividem a glória de um segundo indiferente são uma penitência, uma jaula que a gente sempre volta a se trancar. Com consentimento, com a dúvida de nunca sair.

Faz dias que não sai uma linha, um inferno só com dias previsíveis. Juntar palavras é bobagem e inocente. Pego a blusa, o cigarro e me contento em me divertir no trabalho ou com o caminho até a casa dela. Não preciso de liberdade pra esses dias e nem de um estopim que ilumine o caderno que está abandonado.

Eu pego a blusa, o cigarro e nem me importo se faz dias que não sai uma linha. Pelas onze da noite eu entro e eu mesmo fecha os pequenos metros quadrados que aprisionam, aprisionam. Sei que um dia, de tanto juntar acaba saindo. A linha, o verso o beijo esquecido. Agora, eu nem me importo. Kafka e kafta já me parece a mesma coisa, no estado inerte que me encontro. No fim a gente é um pouco dos dois, carne sem graça no espeto ou baratão nojento aceitando o que se é.

As mãos deslizam e desenham formas irreconhecíveis. As letras todas fogem e se escondem. Não é o tempo, talvez nem a hora pra contar a nossa história ou inventar uma nova. Eu pego a blusa e o cigarro enquanto não sai uma linha.

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