quinta-feira, 28 de abril de 2011

Joan Jett do agreste

quinta-feira, 28 de abril de 2011
Faz tempo que perdi a habilidade de escrever as meias poesias que tantas vezes me convenci que eram boas. Faz tempo que ela ia no bar e ria comigo.E pensando nisso, hoje fiquei, no banco, solitário, alto nas minhas garrafas de cerveja. No mesmo bar esquecido, que nem ela e nem eu voltou mais. Só que hoje, hoje eu fiquei até mais tarde, no alto das minhas cervejas, nesse bar esquecido.

E as vezes ela volta, a minha Joan Jett do agreste, que mora perto da República com seus três gatos, que tem nomes que eu me recuso a decorar, só pra deixa-lá brava. E assim com três toques no meu ombro surje a moça de calça colada, cabelos negros e seu semblate soturno. A minha Joan Jett do agreste. Ainda bem que sem os gatos, mas com a mesma risada que tantas vezes decorou as madrugadas que a gente ficava enchendo a cara na sua sacada.

Ela diz que estava longe, bem longe, daqui e do agreste. Lança o riso, arranca um meu. Ela diz que sumi, eu arrisco, hesito, ela sabe.

Silêncio.

Seus olhos estudam o velho bar, acho que confere se algo mudou, se na janela ainda tem o mesmo pó de antes. Ela sabe, entende. Meu olhar no seu decote é como se disesse que no pó estamos nós, buscando refúgio em noites já vividas.

Eu encaro mais uma cerveja, ela encara seu meio martini meio éter concentrado. Passam duas horas e ela já sabe que eu nem mais hesito, que nem mais me arrisco. Ela fala que vai se mudar, pra um lugar melhor, onde os vizinhos não brigam tanto, onde o olhar do porteiro não reveze entre sua bunda e olhos congelados de pudor. Quem diria Joan Jett me convidando pra zombar o porteiro, pra uma bagunça de fazer inveja aos vizinhos, eu desvio, mesmo com a persistência de suas pernas.

Me permito o riso, agora ela é a moça aflita que defere carinho aos gatos e assustada convida um cara por noite pra zombar o porteiro e os vizinhos. Agora sou o cara que não hesito, não arrisco.

A Joan Jett dos meus sonhos, de um agreste próximo daqui, da praça da República deliquente, ajusta sua calça colada, vira de uma vez seu décimo meio martini meio éter concentrado e some com três toques no meu ombro.

3 comentários:

  1. Essa de perder a habilidade é xaveco que sei, poesia é muito mais que palavras divididas em estrofes, vc mesmo fez uma que parece mais uma crônica!

    Perfeito cara, me senti olhando os seios de uma mulher já experimentada num bar sujo num beco escuro atrás da Galeria Metrópole, ou na rua que passa na frente da Atento... engraçado e real... FODA!

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  2. É, a Joant Jett com suas pernas recheadas de pecado.
    A moça dos nossos sonhos que mora perto.

    Real, palpável. Nem sei como frequenta esses lugares, a moça classe média que os pais ainda pagam suas contas.

    E essa Joan Jett tem as pernas recheadas de pecado.

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  3. Que a gente vê lendo em pé no metrô!
    Que tem cara de sono quando é manhã, e tem cara de cansaço quando é fim do dia.

    Que se joga na alegria de um simples copo de cerveja, que chora, sorri, briga e não tem, assim como nós, nenhuma certeza...

    Uma mulher de carne, osso, cabelos e pêlos!
    Uma mulher inteira! Que também nos deseja como desejamos suas pernas... e os pecados que tem nela são os pecados da nossa cabeça.

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